Necessidade de equilibrar trabalho e lazer não é algo novo, mas pandemia evidenciou consequências da sobrecarga de tarefas
“Um bom descanso é metade do trabalho”, diz um provérbio iugoslavo que viralizou nas redes sociais. Como muitas das coisas que viajam pela internet, não sabemos se a origem está correta, mas o significado certamente está. Há anos que os cientistas apontam a necessidade do equilíbrio entre esses diferentes momentos da vida para garantir uma boa saúde mental e física, mas, durante a pandemia, as consequências da rotina sobrecarregada foram evidenciadas. Pesquisa do Ministério da Saúde com mais de 17 mil pessoas apontou que 86% dos entrevistados registraram sintomas de ansiedade, 45,5% de estresse pós-traumático e 16% de depressão. Não por acaso, a própria residência foi apontada como o principal local de trabalho pela maioria dos participantes.
“A casa sempre foi, para muitos, associada à família e descanso, sendo que o trabalho era o local de referência para metas, desempenho e entrega”, destaca o professor José Anizio Marim, coordenador do curso de Psicologia do Centro Universitário UniMetrocamp. “Como tudo passou a ser realizado no mesmo espaço durante o isolamento social, essa diferenciação acabou sendo prejudicada”, diz. “A falta de descanso pode comprometer a saúde física e mental devido à ocorrência de estressores psicossociais, ou em linguagem mais simples, situações de estresse, que afetam o sistema imunológico e hormonal e podem desencadear ou exacerbar um problema psíquico, sendo a ansiedade o quadro mais comum nesse período que vivemos”.
De acordo com o professor do UniMetrocamp, a ansiedade acaba gerando nas pessoas uma “falsa” expectativa de que tudo se resolve no pensamento. “O ansioso fica avaliando os fatos e elaborando uma forma de equacionar tudo mentalmente, muitas vezes fora da realidade”, ressalta. “Outro ponto importante é que o excesso de trabalho, muitas vezes, pode estar relacionado à busca pela perfeição e um grau de autocobrança muito grande, que são igualmente irreais”, aponta Marim. “É fundamental ficar dentro dos seus limites, senão o resultado é um sério desgaste emocional”.
Marim acrescenta ainda que hoje a relação com a tecnologia também influencia diretamente no bem estar e precisa de atenção. “Estar conectado significa um elo 24 horas por dia com o trabalho, enquanto no ambiente da empresa, quando finaliza o expediente, as luzes se apagam e tudo cessa até o dia seguinte”, avalia. “Cada pessoa precisa estabelecer o tempo de conexão para não entrar em estafa, as pessoas a sua volta podem ser um referencial disso, indicarem se você está exagerando ou não nas horas de trabalho, ou se precisa de uma maior convivência social”, recomenda. “Cada um precisa experimentar a melhor forma de se desligar, de ter seu descanso, perceber seu tempo mental para não gerar transtornos psíquicos como a Síndrome de Burnout, causada pelo esgotamento profissional, e que vai afetar todas as áreas da vida”, conclui o coordenador do curso de psicologia do UniMetrocamp.
Como saber o que realmente relaxa sua mente? Segundo o estudo “The Art of Rest”, ou a Arte do Descanso, com a participação de mais de 18 mil pessoas de 135 países, essa resposta pode ser diferente para cada pessoa. Não se trata apenas de dormir, conforme os especialistas, mas de fazer aquilo que de fato alivia nossa cabeça e recarrega as energias do corpo. Entre as maneiras mais citadas pelos entrevistados estão ler (58%), estar em contato com a natureza (53%), ficar sozinho (52%), ouvir música (40%) e não fazer nada – mesmo (40%).